terça-feira, 18 de novembro de 2014

Feminismo Individualista e Radical


Começo a discussão me apresentando como um feminista libertário e individualista.Quem já acompanhou algumas discussões sobre o assunto comigo a algum tempo atrás, sabe que eu sempre me pautei por explicar que haviam dois tipos de feminismo o individualista e a versão coletivista. Tratando o individualista como o original vindo da Mary Wollstonecraft, considerada criadora do feminismo. Assim o feminismo surge como uma bandeira e uma luta do individualismo (o combate a desvalorização da mulher como individuo livre e/ou racional), se tornando muitas vezes contraditório ao se afastar do mesmo. Porem também não direi que as coletivistas não sejam feministas  para assim não reproduzir a  falacia do escocês Alem de explicar que para mim até então existiam 3 tipos de feminismo, o feminismo individualista, o feminismo liberal e o feminismo radical. Apesar disso ainda via muitas das chamadas na minha concepção de individualistas negligenciando alguns pontos que achava pertinente ao feminismo enquanto via que algumas das chamadas feministas radicais se tratavam na verdade de individualistas.Eis que o debate com alguns gerou a reflexão que me motivou a escrever esse texto.

Primeiramente gostaria de reproduzir aqui e explicar um pouco de onde saiu essa divisão. Na verdade a primeira vez que vi foi num texto publicado originalmente no Antifa Riots (aqui) e posteriormente no Libertarianismo (aqui) que colocava tudo da seguinte forma:

"O feminismo individualista, inspirado pelo trabalho e pela atuação das primeiras feministas, define igualdade como tratamento igual perante as leis e advoga a remoção das palavras homem e mulher da redação destas, promovendo, assim, reformas - opondo-se a revoluções - que permitam uma igual participação da mulher na vida pública. O feminismo individualista se opõe ao paternalismo estatal com relação às mulheres e, arrostando o feminismo radical e retomando as reclamações das primeiras feministas, afirma que as mulheres, por serem, tanto quanto os homens, indivíduos pensantes e morais, devem ser responsabilizadas pelos seus próprios atos. O feminismo individualista crê que o que determina a classe a que um indivíduo pertence é a relação deste com o Estado, e não o seu gênero. Intelectuais libertários abolicionistas do século XIX exerceram uma grande influência sobre o feminismo americano da época - que traçou um paralelo entre a situação dos escravos negros e das mulheres - e sobre a corrente individualista atual. Representantes famosos de feministas individualistas são, além de Wendy McElroy, a professora e escritora Camille Paglia, a jornalista Cathy Young, Sharon Presley e Joan Kennedy Taylor e a criadora do feminismo como vertente politica Mary Wollstonecraft.

feminismo liberal atua sobre a sociedade para integrar a mulher à sua estrutura e calca sua ação sobre a teoria do contrato social do governo instituído pela Revolução Americana. Normalmente, contrariando as colegas radicais, as feministas liberais, ao menos aquelas ainda ligadas ao liberalismo clássico, se opõem à censura como um todo (que poderia ser usada para abafar a voz das mulheres) e também no caso particular da pornografia, embora algumas delas adotem as posições extremistas do feminismo radical sobre a pornografia. Aqui, a igualdade é definida não apenas como tratamento indistinto perante a lei, mas também como equivalência de poder socio-econômico entre homens e mulheres. Desta forma, as feministas liberais não descartam o intervencionismo estatal como um meio para que tal paridade seja atingida. Segundo McElroy, esta corrente é um misto de feminismo libertário e feminismo radical. Grandes exemplos de feministas liberais são a moderada Betty Friedan, a dita mãe do feminismo moderno e co-fundadora da National Organization for Women (da qual foi mais tarde expulsa), a escritora Naomi Wolf e a jornalista Susan Faludi.

feminismo radical, seguindo a teoria da desconstrução sob a perspectiva de Foucalt, defende a criação de uma arena, desligada da tirania do discurso político e filosófico de caráter masculino, onde as mulheres poderiam expressar seus sentimentos e experiências, os quais adquiririam universalidade intelectual e cultural. Algumas feministas radicais argumentam que diferenças sexuais no que respeita ao comportamento são fruto unicamente da influência e das interações sociais. Na perspectiva deste tipo de feminismo, a igualdade só pode ser atingida estabelecendo novas legislações que cerquem as mulheres de proteção e privilégios, para compensá-las pelas alegadas injustiças passadas e presentes às quais foram e, segundo as ativistas desta corrente, ainda são submetidas enquanto classe. Em contraste com a corrente individualista, o feminismo radical apóia revoluções e grossas transformações no sistema político e legal?em vez de reformas que busquem a inclusão --, já que é este o sistema que oprime as mulheres. Tão forte é a sua negação da filosofia e da intelectualidade tradicionais que algumas pensadoras desta corrente objetam ao uso da lógica e da dialética e à revolução tecnológica como formas da atuação patológica e do pensamento masculinos. Não raro pregam elas uma verdadeira segregação entre mulheres e homens, sendo estes últimos responsabilizados pelos grandes problemas da humanidade. Notáveis neste meio são a advogada Catherine MacKinnon, a filósofa Mary Daly, a escritora Andrea Dworkin e seu marido e o também escritor John Stoltenberg."

Porem como dito após algumas trocas de informações, debates e discussões pude chegar a algumas conclusões de porque essa definição está errada e a partir de onde. Um dos pontos que quem me apontou foi inclusive o Pedro Eidt foi o de que das primeiras e principais feministas radicais havia também individualistas. Após uma pesquisa mais extensa pude fazer alguma releitura inclusive sobre a própria origem do feminismo radical. O dito feminismo radical nasce da aprofundação da questão de gênero sim, principalmente por parte da filosofa Simone de Beauvoir (leia mais aqui). Para quem não sabe ela foi a grande filosofa que através da reflexão que o existencialismo de Kierkgaard chega das formas de dominação, utiliza seu conceito da luta do individuo contra a cultura coletiva, ela colocou o machismo como parte dessa dominação cultural existente até então. Esse ponto de reflexão que originou a reflexão do chamado pouco depois na época de problema sem nome conhecido já hoje em dia pelo nome de patriarcado. O sexo masculino compreendia a medida primeira pela qual o mundo inteiro era medido, incluindo as mulheres, sendo elas definidas e julgadas por este padrão. O mundo pertencia aos homens. As mulheres eram o “outro” não essencial. deBeauvoir observa esta iniqüidade do status sexual em todas as áreas da sociedade incluindo a industrial, política, educacional e até mesmo em relação à linguagem. A esse feminismo que se concentrou também grandemente na questão dessas desigualdades pela discriminação a um gênero passou a chamar feminismo radical. Posteriormente algumas das feministas que tinham uma visão mais coletivista da coisa (ou a partir disso desenvolveram uma visão coletivista) na qual haveria uma divisão na qual deveríamos considerar todo o gênero masculino como culpado  no qual deveria haver toda uma ação estatal para consertar esse problema. Não digo que os homens não são privilegiados por essa cultura enquanto homens e que não existe uma cultura que ou desconsidere as mulheres como indivíduos ou as trate como indivíduos inferiores, mas a solução tem que vir justamente da criação de uma concepção que trate a mulher como individuo como o homem e não que tente devolver e reproduzir quase o mesmo coletivismo que as discrimina como resposta. Assim como se encara e como se responde ao problema do patriarcado seria a diferença maior entre as feministas individualistas e coletivistas.
Por outro lado muitas outras feministas individualistas se concentraram muito no problema de como o estado por ser também patriarquista e reproduzir assim a logica patriarcal ele influenciou muito a sociedade de modo geral ou desconsiderando como já dito a mulher totalmente como individuo ou tratando como um individuo inferior (uma segunda classe). Realmente isso pode ser muito observado através dos tempos como  em quando foi proibido as mulheres o direito de votar ou enquanto em algumas sociedade só os homens podiam optar pelo divorcio e não as mulheres entre outras coisas. Esses problemas que o estado cria sim devem ser resolvidos como apontam essas feministas e são uma dos maiores contribuintes da reprodução do patriarcado. Porem a questão vai muito alem de simplemente se acabar com o estado. É importante lembrar sim que o estado foi quem mais propagou e é um dos maiores responsáveis por tal problema. Porem não podemos ficar apenas nessa superfície e podemos (devemos) ultrapassar tal ponto nos aprofundar em como essa cultura que perpetua o machismo pode ser combatida para alem da questão da abolição do estado. O estado é um grande agente perpetuador do problema mas não é o único. Não se deve só aboli-lo mas produzir toda uma cultura contraria a que ele já produziu.Combater (não coercitivamente) toda cultura nefasta por ele já reproduzida e entranhada na sociedade. É necessário um feminismo libertário e individualista? É mas igualmente radical no combate ao patriarquismo.
Assim podemos ir alem da primeira divisão apresentada e apresentar dessa forma:

Feminismo Individualista Moderado: Que entende o problema da desvalorização da mulher como individuo e entende que o estado é um maiores causadores disso, também entente que a solução deve começar pela revogação de todos os mecanismos estatais que continuam a propagar tal problema não permitindo a participação das mulheres na vida publica mas se opõe ao paternalismo estatal com relação às mulheres arrostando o feminismo coletivista e retomando as reclamações das primeiras feministas. E em oposição ao feminismo radical prega que o que determina a classe a que um indivíduo pertence é a relação deste com o Estado, e não o seu gênero. Representantes famosxs de feministas individualistas moderadas são Wendy McElroy, a professora e escritora Camille Paglia, a jornalista Cathy Young, Sharon Presley e Joan Kennedy Taylor

Feminismo Liberal* atua sobre a sociedade para integrar a mulher à sua estrutura e calca sua ação sobre a teoria do contrato social do governo instituído pela Revolução Americana. Normalmente, contrariando as colegas coletivistas radicais, as feministas liberais, ao menos aquelas ainda ligadas ao liberalismo clássico, se opõem à censura como um todo (que poderia ser usada para abafar a voz das mulheres) e também no caso particular da pornografia, embora algumas delas adotem as posições extremistas do feminismo radical sobre a pornografia. Aqui, a igualdade é definida não apenas como tratamento indistinto perante a lei, mas também como equivalência de poder socio-econômico entre homens e mulheres. Desta forma, as feministas liberais não descartam o intervencionismo estatal como um meio para que tal paridade seja atingida. Esta corrente é um misto de feminismo individualista moderado e o coletivista. Grandes exemplos de feministas liberais são a moderada Betty Friedan, a dita mãe do feminismo moderno e co-fundadora da National Organization for Women (da qual foi mais tarde expulsa), a escritora Naomi Wolf e a jornalista Susan Faludi.

Feminismo Individualista Radical: Também entende o problema da desvalorização da mulher como individuo mas não coloca o estado como o maior causador disso mas também a "moral" do ideal feminino que tornou muitas mulheres infantis e frívolas, quase como crianças, levianas e femininas; passivas; garbosas no mundo da cama e da cozinha, do sexo, dos bebês e da casa. Elxs afirmam que a única maneira para a mulher encontrar-se a si mesma e conhecer-se a si mesma como uma pessoa seria através da obra criativa executada por si mesma para alem dessa moral coletivista depreciativa.Seriam como as outras feministas individualistas porem radicalmente empenhadas no problema da cultura de gênero, o papel do patriarcado e a cultura machista em geral por ele produzida. Representantes famosxs de feministas individualistas radicais são Simone de Beauvoir, Maria Lacerda de Moura, Comandanta Ramona, Roderick Long,  e o famoso grupo "Association of Libertarian Feminists"

Feminismo Coletivista Radical, seguindo a teoria da desconstrução sob a perspectiva de Foucalt, defende a criação de uma arena, desligada da tirania do discurso político e filosófico de caráter masculino, onde as mulheres poderiam expressar seus sentimentos e experiências, os quais adquiririam universalidade intelectual e cultural. Algum(a)s feministas radicais argumentam que diferenças sexuais no que respeita ao comportamento são fruto unicamente da influência e das interações sociais. Na perspectiva deste tipo de feminismo, a igualdade só pode ser atingida estabelecendo novas legislações que cerquem as mulheres de proteção e privilégios, para compensá-las pelas alegadas injustiças passadas e presentes às quais foram e, segundo as ativistas desta corrente, ainda são submetidas enquanto classe. Em contraste com a corrente liberal, o feminismo coletivista radical apóia revoluções e grossas transformações no sistema político e legal em vez de reformas que busquem a inclusão --, já que é este o sistema que oprime as mulheres. Tão forte é a sua negação da filosofia e da intelectualidade tradicionais que algumas pensadoras desta corrente objetam ao uso da lógica e da dialética e à revolução tecnológica como formas da atuação patológica e do pensamento masculinos. Não raro pregam elas uma verdadeira segregação entre mulheres e homens, sendo estes últimos responsabilizados pelos grandes problemas da humanidade. Notáveis neste meio são a advogada Catherine MacKinnon, a filósofa Mary Daly, a escritora Andrea Dworkin e seu marido e o também escritor John Stoltenberg."

De modo algum quis dizer com esse texto que as feministas individualistas mais moderadas não são excelentes teóricas, na verdade penso muito pelo contrario. Wendy MacElroy de todas autoras que  já li é na minha opinião é quem melhor explica porque o estado nunca vai ser eficiente na eliminação do problema  do sexismo e que na maioria das vezes ao tentar reparar se tem o efeito contrario (como a atuação da "National Organization for Women," que para ela, trabalham, através do estado, para estabelecer privilégios legais para as mulheres, que seriam por isso vítimas da proteção estatal de uma opressão patriarcal. ).Simplesmente as diferencio por não se aprofundarem tanto nas questões de gênero e se concentrarem muito somente na questão estatal. Também de modo algum foi meu objetivo aqui dizer que não podem haver teoricxs que caminhem entre um e outro tipo de feminismo ou misture elementos de mais de um e por isso não se enquadrando objetivamente em nenhum. Entendo que entre preto e branco existem sempre diversos tons de cinza, mas meu objetivo foi mais expor algumas das principais correntes para que ao entender a pluralidade de existência de correntes feministas possamos nos orientar para diferenciá-las mais facilmente e dessa forma entender os seus diferentes modos de agir e ver as coisas.
Copy Left: Vento Farias Lima


*liberal aqui se trata de liberal social no sentido americano usado para designar na maior parte das vezes democratas progressistas

PS:O assim chamado "Neo-feminismo" do femen não entrou devido a propria fundadora do movimento Anna Hutsol afirmar com todas as letras que ela e seu movimento não são feministas e devido a mudança constante de opinião do mesmo não se sabendo ao certo o que defendem alem de usar bandeiras que vão claramente contra a liberdade das próprias mulheres como a defesa do alistamento militar obrigatorio para as mulheres ou o combate a liberdade sexual (como se opor a descriminalização da prostituição entre outras coisas)